É muito comum ouvir que um fator de sucesso para qualquer negócio é quando o empreendedor ou o funcionário “faz aquilo que gosta”. E isso é uma verdade: o combustível da paixão tem uma energia inesgotável, capaz de mover montanhas. Quando você descobre aquilo que gosta de fazer, aprende como fazer e encontra clientes dispostos a pagar seu preço: parabéns! Acelere, você está no caminho certo!
Porém, engana-se quem acredita que “fazer aquilo que gosta” o isenta de “fazer aquilo que precisa ser feito”. A recente onda de glamourização do empreendedorismo às vezes tenta esconder que ter um negócio, ser um bom colaborador, ter uma posição respeitável na sua área de atuação é algo que exige muito esforço e dedicação. Como escreveu meu colega de Blog do Empreendedor do PME Estadão, Ivan Primo Bones, não leia se você não gosta de trabalho duro.
Exemplifico: Você gosta de cozinhar. Quer ser chef de cozinha reconhecido com uma estrela pelo prestigiado Guia Michellin. É impossível você chegar lá “apenas cozinhando”. Para ser chef é preciso trabalhar “hard”. Se preparar. Criar um cardápio que faça sentido. Garantir formas de receber as melhores matérias-primas (para quem quer trabalhar com frutos do mar e verduras frescas é um super desafio). Selecionar os melhores fornecedores. Capacitar a equipe. Cuidar do marketing do restaurante. Certificar-se se todas as questões sanitárias, fiscais e da qualidade do atendimento ao cliente.
É bem verdade que a intersecção entre as economias criativa e digital, a revolução tecnológica, a cultura startup são elementos que hoje permitem que o trabalho não seja necessariamente chato. Espaços de coworking são exemplos de ambientes que incentivam uma maneira mais descontraída de trabalho, onde a alegria pode sim conviver com perseguir resultados. Em 2012, o rapper Wiz Khalifa popularizou a expressão “play hard, work hard” para celebrar essa capacidade de divertir-se para valer ao mesmo tempo em que se trabalha duro (que dialoga com outra famosa frase famosa da “nova economia”: make money and have fun).
O livro Rework é uma espécie de manifesto desse novo mundo do trabalho. A questão é equilibrar a descontração, a flexibilização das hierarquias, os horários flexíveis e o humor com as responsabilidades, a proatividade e a atenção máxima nos momentos necessários. Aqueles que “caem na gandaia”, dedicando tempo demais no pebolim e esquecendo de ligar para o cliente – esses vão quebrar a cara. Como fã da cultura popular, sempre acreditei que o único lugar onde sucesso vem antes de trabalho é no dicionário. Mas lá, nas páginas do “amansa-burro”, a dor também vem antes do ganho. Portanto, vamos em frente! Com esforço, fé e determinação.
Por Márcia Matos. Jornalista, especialista em educação a distância, estudiosa do mundo digital, com muita experiência em Tecnologia da Informação, consultora e palestrante, com vários artigos publicados. Ex- funcionária do SEBRAE e atualmente, na equipe do Laboratorium, é coautora do TREM – Trilha de Referência para o Empreendedor.