Uma das áreas em que empreender vem sendo terreno de grandes experimentações é o jornalismo. Foi da necessidade de formar mão de obra capacitada que surgiram os cursos de comunicação. De lá para cá, o trabalho nas redações vem minguando e muitos novos modelos vem sendo testados, mas poucos conseguem de fato se consolidar.
Acredito que após uma dezena de veículos criados pelos precursores do jornalismo no Brasil – servem de exemplo este Estadão, a Folha de São Paulo, a Última Hora (que veio transformar-se na Zero Hora) – o início efetivo da intersecção do empreendedorismo com o jornalismo começou na segunda metade do século passado, quando alguns profissionais, cientes da necessidade tanto do governo quanto das empresas privadas de melhor se relacionar com os veículos, começaram a criar as assessorias de imprensa. Ainda no século passado, na era pré-digital, surgiram centenas de jornais regionais, assessorias de comunicação, as agências de notícias, as empresas de clipping, as produtoras de rádio e TV – a grande maioria delas criadas e administradas por jornalistas.
Mas foi a revolução digital e o advento dos blogs e outras plataformas que possibilitou aos jornalistas saírem do papel limitado de recursos na produção de notícias para publicadores de conteúdo. O boom da internet e das mídias sociais só ampliaram o leque de possibilidades. O jornalista passou a poder ter sua emissora, produzindo seus podcasts, seu canal de televisão no Youtube, seu banco de imagens no Flickr. O novo mercado, apesar de ilimitado poder criativo – o número de blogs e canais a serem criados e infinito – traz à tona uma nova dificuldade: como rentabilizar e viabilizar o negócio? A audiência da grande maioria dos blogs não atrai anunciantes que sejam capazes de investir e financiar o custo de produção de um noticiário periódico de qualidade.
Faltam, para a grande maioria dos jornalistas que querem ser empresários, competências além daquelas técnicas do profissional de comunicação. Para colocar um negócio jornalístico em pé não basta ter criatividade para identificar boas pautas, saber apurar os fatos e redigir de forma correta, sucinta e objetiva: é preciso aprender sobre modelos de negócios, gestão, vendas, controle do fluxo de caixa, entre outros muitos temas que vocês encontram nesse blog.
O jornalista e pesquisador Sergio Lüdtke divulgou, em maio, um levantamento que fez com 64 empreendimentos digitais independentes. O resultado mostra que os empreendimentos são jovens (48% tem apenas 2 anos e apenas 18% têm mais de 5 anos) e a grande maioria (42%) aposta na publicidade como principal fonte de receita. A maior dificuldade (34%) apontada pelo estudo é a falta de investimentos, seguido do desafio de tornar-se relevante para o público (24%). A maioria deles (36%) teve investimento inicial de até R$ 10 mil reais, sendo que oito realizaram crowdfunding.
Para identificar pontos que podem ajudar o profissional jornalista nessa mudança de modelo mental, de empregado para empreendedor, é que, a convite da Revista Imprensa, realizo nessa quarta-feira, dia 29, a oficina “Design de negócios inovadores para jornalistas”. Num ambiente de cocriação, sem ter respostas mágicas, vamos analisar casos e conhecer ferramentas que podem inspirar aqueles que pretendem abrir seu próprio negócio na área do jornalismo. Se você quiser aparecer, welcome. Se quiser deixar seu comentário, continuamos a conversa por aqui.
Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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