O Canvas foi criado para desenhar um modelo de negócios.
“Modelos de negócios descrevem a lógica de como uma organização cria, entrega e captura valor”. Esta é a definição de Alex Osterwalder. É a partir desta definição que surge a ferramenta Canvas. Por isso, o autor recomenda que o início da elaboração de um Canvas seja olhando para o seguimento de clientes, relacionando-o à proposta de valor. Não sem razão, posteriormente, Osterwalder criou o Canvas da Proposta de Valor, a ferramenta que ajuda a confrontar a oferta com a demanda dos clientes, aquilo que eu penso que é bom com aquilo que o cliente verdadeiramente deseja. A palavra mais importante aqui é: valor. A começar pelo entendimento da definição, é o valor que está na essência do negócio. E esse valor é muito, mas muito mesmo, mais que preço. Ele está atrelado à percepção do ciente. Essa é uma verdade que pode ser observada nas marcas de luxo, mas também nas padarias das esquinas da cidade. A sugestão é refletir sobre a fila na frente da loja da Louis Vuitton, na avenida Champs-Élysées em Paris, e nos motivos que nos levam a comprar o pão na padaria A e não na B. Essas respostas revelam o valor de cada negócio. Valor que difere em função do segmento de clientes, daí a importância deste bloco do Canvas, daí ele ser o primeiro a ser compreendido e detalhado. Não sem antes apelar para o Canvas da Proposta de Valor.
O Canvas é uma ferramenta poderosa
Assim como tantas outras, ferramentas só servem a quem lhes sabe bem o uso. Já tive experiência de ajudar quem estava com problema no Excel para descobrir que o erro estava na fórmula. Experimentar uma ferramenta para escrever não faz ninguém capaz de escrever um romance qualquer. Assim é a ferramenta Canvas, ótima para desenhar uma ideia de negócio. Mas como toda ferramenta, depende muito da habilidade de quem a utiliza.
Compare o uso do canvas com um pincel. Todos mundo sabe minimamente usar um pincel. Porém, se você colocar um pincel na mão de alguém que nunca pintou uma parede, essa pessoa vai precisar de treino e técnica para chegar a ter o desempenho de um pintor profissional.
Assim é o canvas, por isso é recomendável que, no mínimo, a pessoa saiba o significado de cada bloco. Aparentemente isso é simples, mas é apenas básico. Por isso, a sugestão é estudar, assistir palestras, pesquisar modelos, fazer cursos, ler a cartilha do Sebrae, ler o que tem no TREM sobre modelo de negócios, devorar o livro Business Model Generation e assim aprofundar-se sempre imaginando que há diferentes formas de usar a ferramenta – por isso mesmo ela é poderosa. Uma das melhores dicas é exercitar o mapeamento de modelos existentes. Por exemplo, você está na espera de um consultório médico, no tráfego, ou na fila do banco. Mentalmente exercite – como é esse modelo? Qual a proposta de valor? Para que segmentos de clientes? analisando Canvas de outros negócios e criando seus próprios Canvas, principalmente fazendo releitura de negócios conhecidos.
O primeiro Canvas é apenas um rascunho
Não é simples criar um modelo criativo, viável, lucrativo. Essa tarefa requer enfrentar uma série de desafios, que vão desde testar a ideia até cumprir toda uma burocracia. O Canvas é uma ferramenta, muito boa, para transcrever uma ideia e mostra-la para outras pessoas, discutindo sobre o que está posto, buscando entender cada boco e a correlação entre eles. Colocar uma ideia no papel não é o mesmo que criar um negócio. É apenas a oportunidade levantar hipóteses e verificar se elas fazem sentido, para pode ir adiante. E aí, sim, se elas fazem sentido, há um próximo passo: validá-las. De novo, no papel cabe tudo o que não pertence ao mundo real. Transformar ideias em realidade, o Canvas não vai fazer para ninguém. Parece óbvio? Na verdade, é obvio demais, porém o óbvio é algo que nos passa despercebido na maioria das vezes. A sugestão é pegar sua ideia fantástica, trazer para o Canvas e malhar. Ir a fundo em cada uma das hipóteses. Ouvir que tem mais experiência. Mudar o que for preciso. E vai, com certeza, ser preciso rever algumas, ou muitas, das expectativas iniciais.
O Canvas contribui para a criatividade, mas não faz milagres.
Ser criativo é usar a imaginação para inventar, criar, conceber imagens, formas, situações, soluções, resultados. Usando a criatividade é possível transformar problemas em soluções, ideias simples em grandes ideias. O Canvas abre janelas para a criatividade, porque sendo visual facilita percebermos o que não perceberíamos em um documento escrito. Isso não quer dizer que nos tornaremos criativos apenas por usar um Canvas. Ser criativo é inerente ao ser humano, mas manter-se criativo requer exercício constante, a prática insistente de pensar “fora da caixa”. A sugestão é pegar sua ideia e usar o Canvas para testar sua ideia inicial, acrescentar novas ideias, combinar conceitos, experimentar novas ofertas, mixar produtos e serviços, buscando descobrir como oferecer uma experiência única.
O Canvas não substitui o plano de negócios
O Canvas é o desenho, o mapa de um negócio. É como se fosse o projeto arquitetônico de uma casa, um roteiro de uma peça de teatro, o desenho de um estilista para sua próxima coleção. Depois do desenho é preciso um plano para que aquilo que era desenho se torne realidade. Por isso, não há como comparar o Canvas com um plano de negócios, nem mesmo tomar um pelo outro. O que pode variar é a forma como o plano vai ser feito, se obedecendo o antigo modelo do plano de negócios ou se a partir de um outro modelo, seja com mais foco na estratégia ou no operacional, embora um não elimine o outro. Na imagem abaixo mostramos a correlação entre a estrutura de uma empresa e os blocos do Canvas. A partir do que está validado em cada bloco, é possível planejar o que será a empresa. Definir objetivos, metas, equipe etc. A sugestão é nunca dispensar o planejamento. Pode ser que nessa etapa ainda sejam feitas novas descobertas, o que é positivo, pois nessa fase ainda não estão comprometidos os recursos financeiros. Se este planejamento for bem detalhado, os riscos serão reduzidos e as chances de sucesso aumentadas.
Pode ser divertido “brincar” de canvas
O Canvas é um antes de tudo um quadro. Que deve ser usado para desenhar possibilidades. Portanto, é possível criar um ambiente lúdico em torno do processo de criar, reinventar, modificar, pensar possibilidades de inovar no modelo. É divertindo que você poderá ter ótimas ideias e criar hipóteses realmente brilhantes e até aparentemente meio malucas – que podem ser posteriormente aprimoradas e adaptadas para que seja viável.
Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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