Da concepção ao lançamento, um projeto passa por várias etapas, cada uma com suas especificidades, como por exemplo, pesquisa, prototipação, teste de funcionamento, aceitação do público final, rodada de investimento, entre outras. Essa fase entre estudos e descobertas pode significar o nascimento ou a morte de um produto e existem ferramentas para medir em qual nível de maturidade tecnológica ele se encontra.
Já falamos aqui o quanto é importante conhecer e usar as ferramentas certas para se trabalhar com gestão da inovação, pois elas estão aí contribuindo para o sucesso de empresas que transformaram a vida das pessoas para melhor.
E uma das ferramentas que merece destaque para se analisar em que ponto de desenvolvimento um produto está se chama Technology Readiness Level ou TRL, como é conhecida.
A tradução livre para TRL é “Níveis de Prontidão Tecnológica” e ela é uma metodologia de mensuração da maturidade tecnológica para se analisar em que ponto se encontra a pesquisa e criação de um produto, projeto ou serviço inovador.
Continue lendo para entender como a TRL é aplicada em uma gestão de inovação e qual sua origem.
O que é a TRL?
Os níveis de prontidão tecnológica (TRL) é um método de classificação da maturidade da tecnologia à medida que se passa do seu primeiro nível (TRL 1), onde a pesquisa foi iniciada, para o último nível (TRL 9), onde a tecnologia foi comercializada e está no mercado há algum tempo.
Esta ferramenta fornece uma visão rápida da maturidade da tecnologia e auxilia a gestão na tomada de decisões sobre o desenvolvimento e transição de uma tecnologia. Não é uma ferramenta autônoma, mas uma entre várias outras que são necessárias para gerenciar o progresso das atividades de pesquisa, desenvolvimento e teste dentro de uma organização.
A origem da TRL para medir a maturidade tecnológica
Falar de organizações inovadoras para o planeta e não falar da NASA é impossível.
A Agência Espacial Americana não apenas levou o homem a pisar na lua, ainda nos anos 60, onde computadores de uso pessoal ainda estavam em estágio embrionário, por exemplo, como é a responsável por toda a área de pesquisa que envolve desde satélites até a internet. E se hoje a tecnologia chegou onde chegou, devemos uma grande parte desse avanço á ela.
Pois a NASA foi, também, quem desenvolveu a metodologia TRL, criada para padronizar processos de desenvolvimento tecnológico de projetos espaciais específicos.
Foi em 1974 que um pesquisador da Agência Espacial começou a analisar materiais para serem utilizados no sistema de foguetes e classificar as etapas de desenvolvimento dentro de uma escala numerada.
Hoje a metodologia é usada como referência no mundo todo, principalmente nas áreas P & D & I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) e no Brasil ela foi oficialmente aceita como norma pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) em 2015.
Objetivo da TRL como ferramenta de inovação
Mas, enfim, qual o real objetivo da metodologia TRL para empresas inovadoras, desde indústrias, marketing ou serviços?
O principal objetivo de utilizar a TRL como ferramenta de inovação é ter um entendimento claro sobre o projeto que está sendo desenvolvido, possibilitando um refinamento mais metódico e inteligente e a menor incidência de erros.
Por ser uma ferramenta aceita como norma dentro do setor de pesquisa e desenvolvimento, ela é um importante instrumento para se conseguir investimentos, por exemplo.
Agências de fomento a economia como BNDES, EMBRAPII, BIOTECHTOWN, CAPES ou FINEP, que injetam recursos financeiros em empresas em fase de desenvolvimento de pesquisa de inovação, tanto científicas quanto tecnológicas, aprovam projetos que estão em análise dentro da metodologia TRL.
Outro meio de viabilizar recursos financeiros para a realização de um projeto inovador, é através de programas de incentivo fiscal, onde uma empresa pode reduzir sua carga tributária ou impostos, durante o processo de desenvolvimento de um produto.
Para ser beneficiada por esses programas, como a Lei do Bem, é imprescindível a utilização da ferramenta TRL, pois ela traz mais garantia de que um projeto pode dar certo ao mesmo tempo que tem uma indicação do nível de maturidade tecnológica em que ele está.
Agora que falamos como a metodologia TRL ajuda empresas a conseguirem financiamentos, pois diminui o risco de agências de fomento investirem em um projeto no escuro, vamos entender como funciona a ferramenta!
Como funciona a metodologia TRL
Dentro do sistema TRL, é possível que sejam inseridas as etapas de desenvolvimento de um projeto.
Imagine que a TRL é uma linha escalável e cada ponto de realização dentro desse projeto seja um nível.
O TRL é definido por 9 níveis, que vão desde a pesquisa básica até o seu teste e lançamento e dependendo de onde se encontra, é possível se classificar sua maturidade tecnológica.
O TRL começa na fase um, onde a tecnologia está em estágio embrionário e o estágio mais maduro é o nível nove, onde a tecnologia foi testada e lançada.
As fases de um a três do TRL são consideradas os níveis de ideias. A pesquisa básica foi feita, o conceito fundamental investigado e uma prova de conceito desenvolvida.
Nas fases quatro e cinco do TRL no nível de protótipo, a tecnologia foi desenvolvida e aprovada em um laboratório ou em algum outro ambiente relevante.
Nas fases seis e sete do TRL, a tecnologia encontra-se no nível de validação, com demonstrações de sua capacidade ocorrendo em um ambiente operacional relevante. As fases finais oito e nove do TRL envolvem o nível de produção. A tecnologia é completa e aprovada e comprovadamente funciona em seu ambiente operacional.
Nessa figura podemos entender claramente cada etapa do ciclo de vida de um projeto dentro da ‘calculadora’ TRL:
TRL1: É a fase da pesquisa básica, observação e publicação de resultados.
TRL2: Aqui é onde a pesquisa começa a ser aplicada dentro do conceito da tecnologia
TRL3: Pode ser chamada de Prova de Conceito, onde são feitas testes para analisar se a tecnologia está apta a passar subir mais um nível
TRL4: Nessa etapa, é construído um protótipo do que vai ser o produto para início de teste de funcionalidade
TRL5: Nível muito importante do ciclo, pois a tecnologia começa a ser aplicada em ambientes simulados
TRL6: Chegar no nível 6 significa que a tecnologia já está preparada para os testes finais
TRL7: Aqui, o protótipo já está funcionando em um ambiente próximo a realidade
TRL8: Significa que o projeto foi aprovado e maturidade tecnológica atingiu seu resultado
TRL9: O projeto já está em funcionamento, e pronto para ser lançado em larga escala no mercado
Uma curiosidade interessante:
Você sabia que é durante as fases TRL 5 e 6 que se encontra o Vale da Morte?
O Vale da Morte é o fim indesejável de uma startup, é a morte de um projeto, onde testes provam sua falta de funcionalidade ou insustentabilidade.
É nessa etapa, onde apenas 10% das startups conseguem avançar, que se encontra a maior dificuldade para se conseguir investimentos, por exemplo.
Assim, quando o desenvolvimento de um produto inovador está sendo analisado para receber um aporte financeiro, por exemplo, é possível que a classificação do nível da sua maturidade tecnológica o ajude a conseguir tais recursos.
A ferramenta TRL é uma prova de confiança de que um projeto está passando por todos os testes antes de entrar no mercado.
Uma dica muito valiosa para quem está lançando um produto inovador no mercado e procura por investimentos de agências de fomento:
Conheça qual o critério de avaliação de classificação dentro da escala TRL dentro das agências. Algumas oferecem recursos apenas em projetos que estão nos níveis 3 a 6. Outras, como agências de fomento de pesquisa, apenas nas fases iniciais de 1 a 3.
Benefícios da TRL na prática
Já sabemos, até aqui, que a maturidade tecnológica de um projeto inovador, classificado dentro da escala TRL, é importantíssima tanto para ter mais assertividade no processo de gestão da inovação, quanto para se conseguir recursos financeiros para seu desenvolvimento, sejam eles públicos quanto privados.
E tem mais, a ferramenta TRL também vai ser uma grande aliada em outros benefícios como:
- Gerenciamento de riscos
- Tomadas de decisão
- Definição de equipes de trabalho
- Análise de um panorama comparativo com outras tecnologias
Exemplos de empresas que se beneficiam com o TRL
Além da própria NASA que não só inventou, mas tem a TRL como uma de suas principais ferramentas e a tornou referência de escalabilidade tecnológica no mundo, outras empresas também se beneficiam dela, como a Google X, o laboratório “secreto” de inovação do Google, companhias de software da Califórnia, companhias de gás e petróleo, como a gigante inglesa BP, setores de construção, infraestrutura, e agricultura como a John Deere US.
Para inovar com sucesso, é preciso ter competência inovadora
Vimos nesse texto, que a metodologia TRL (Technology Readiness Levels) ou Nível de Prontidão Tecnológica, é um instrumento importante e imprescindível para empresas que trabalham com gestão da inovação.
Dentro da escala de 9 níveis da TRL, é possível se classificar a maturidade tecnológica de um projeto e assim agregar valor e confiança dentro de estratégias que visam aportes financeiros e investimentos externos que garantam a viabilidade de um produto.
Mas fazer a gestão da inovação e criar soluções de mercado que realmente geram valor e impactam positivamente a organização e seu faturamento, exige muito mais do que o uso de boas ferramentas.
É preciso ter uma cultura que se alinhe a este propósito e desenvolver a mentalidade inovadora dos colaboradores, além de saber identificar boas e exequíveis oportunidades de inovação dentro do mercado pretendido, sabendo selecionar as melhores práticas para se tornar um projeto viável, dentro de suas peculiaridades.
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Te vejo na próxima!
Postado por Marcelo Pimenta