Há cerca de um mês escrevi nesse espaço sobre como o movimento humanista do Renascimento e como as novidades propostas por ele poderiam nos inspirar a dar um novo passo no desenvolvimento social.
Recebi vários feedbacks positivos sobre as primeiras ideias na mesma semana em que o Miro Machado, da Lumabyte, de Manaus, me convidou para fazer a palestra de abertura do 2º Congresso Online Comentores, “com um tema novo, diferente do que estamos vendo por aí”. Empolgado com a repercussão do post, tomei coragem de voltar ao tema do Renascimento como inspiração para a inovação nos negócios. Feita a sugestão, foi imediatamente aprovada.
Minha ideia era ampliar um pouco as referências, além das reflexões que eu já tinha feito aqui – e quando menos esperava apareceu na minha timeline um artigo da Harvard Business Review, de janeiro desse ano, escrito por Eric Weiner, correspondente da NPR (a rede pública norte-americana) e autor do livro The Geography of Genius: A Search for the World’s Most Creative Places from Ancient Athens to Silicon Valley. No livro (que ainda não li, mas pesquisei sobre) Weiner conta o que descobriu analisando 27 locais inovadores, em diferentes culturas, em diferentes tempos na história, buscando saber como eles conseguiram criar ideias realmente disruptivas e inovadoras. O livro tem um vídeo resumo que você pode ver aqui.
No artigo para a Harvard Business Review, Weiner concentra sua atenção no mesmo foco da minha pesquisa, deixando isso claro já no título: “Como a Florença renascentista foi um modelo melhor para a inovação do que o Vale do Silício é” (em tradução livre do artigo original). Ele identifica seis características que fizeram de Florença esse “habitat de inovação”, tão rico que é referência na arquitetura, na arte, na engenharia e na ciência até hoje.
Talento requer patrocínio – “Os Medicis” foram uma espécie de “Investidores-Anjo” daquela época. Na verdade, foram mais que isso: comerciantes, banqueiros, mecenas, eles financiaram a inovação encomendando obras, oferecendo pagamentos antecipados e desafiando a capacidade criativa dos artistas com pedidos inusitados.
O potencial triunfa sobre a experiência – Quando Michelangelo foi chamado para fazer a Capela Sistina, existiam outros pintores mais famosos na época. Michelangelo era já reconhecido como o talentoso escultor que tinha feito David –como pintor ainda era inexpressivo, mas a qualidade de sua escultura gerava uma expectativa. Atualmente, uma startup como o Uber, de 2009, sem frota própria, tem valor de mercado maior que empresas como a Vale do Rio Doce ou o Bradesco. Esse valor lhe é atribuído não pelo que é hoje, mas pelo potencial que tem no futuro.
Desastres criam oportunidades – A desgraça da Peste acabou com a vida social do povo de Florença. A saída pela manifestação artística e intelectual foi uma alternativa a ficar apenas se lamentando. Na segunda metade do século XX, a indústria japonesa do pós-guerra criou a “gestão pela qualidade total” para vencer a fama se que “produto japonês é sinônimo de baixa qualidade”.
Incentive a competitividade – Leonardo da Vinci e Michelangelo, apesar de contemporâneos, nunca foram amigos, e nutriam uma disputa pessoal para ver quem seria mais reconhecido. Outro exemplo: cada etapa da construção do Duomo de Florença foi alvo de “competições”, onde cada artista podia apresentar suas propostas. Até a construção da porta do Batistério foi tema de concurso, que é descrito nesse post de Ligia Lopes Fornazieri. Também no século passado podemos lembrar que a Guerra Fria entre URSS e USA foi uma das responsáveis pelo impulso da tecnologia aeroespacial.
Procure e mistures referências – Não existe nada de errado em combinar diferentes “saberes” em busca de uma inovação. A cúpula do Duomo é uma inspiração no Panteão, de Roma. A forma de desenhar as imagens Sagradas no Renascimento é uma releitura do estilo grego de pintura e escultura clássicas. Remixar é um bom caminho para encontrar novas idéias que nascem nas interseções . Foi assim em Florença, onde na interseção de banqueiros com cientistas e artistas gerou uma nova filosofia humanista Em o Efeito Medici, o autor, Frans Johansson, exemplificando as possibilidades das interseções, conta a história do restaurante sueco Aquavit, de Nova York, que confiou no talento do jovem chef Marcus Samuelsson. O restaurante tinha uma boa reputação, porém não era famoso, mas com as inovações do corajoso e talentoso cozinheiro ganhou 3 estrelas do New York Times. “Ele tem uma estranha capacidade de buscar elementos de quase todas as cozinhas do mundo e verificar como eles se conectam com sua base de ingredientes suecos e dos sabores globais” descreve Johansson – e complementa – “O gênio criativo de Samuelsson reside em sua capacidade de gerar combinações de alimentos únicos que surpreendem o paladar. Ele cria um comida ousada, divertida e, é claro, ótima”.
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Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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