O termo sustentabilidade foi incorporado ao mundo dos negócios de diferentes maneiras.
Acho válido destacar alguns aspectos desse conceito, no intuito de que você reflita sobre o quão sustentável seu negócio é, pode ou poderia vir a ser.
O termo ‘sustentabilidade’ foi incorporado aos negócios primeiramente numa visão ambiental. Questões como a poluição, o uso irracional e/ou excessivo dos recursos naturais como a água e as florestas e a necessidade de evitar desperdício. O meio ambiente foi o primeiro ponto de vista que chamou a atenção das empresas – e algumas delas começaram a se preocupar com o impacto que estavam gerando na natureza. A verdade é que essa não foi uma prioridade da grande maioria delas – motivo pelo qual se convive com a poluição dos rios, a crise hídrica, o desmatamento (que continua crescente), os lixões, a falta de tratamento adequado aos esgotos… Mas, de qualquer maneira, é preciso “agir localmente e pensar globalmente”. Vale se perguntar: seu negócio está impactando o meio ambiente? Se sim, está desenvolvendo ações para minimizar esse impacto? O descarte dos dejetos está sendo feito corretamente? Têm sido pensadas soluções mais eficazes e eficientes na relação da empresa com o meio ambiente?
Um segundo aspecto é quando a sustentabilidade pode ser considerada sinônimo de perpetuidade. Ou seja, passou-se a admitir que é preciso se renovar continuamente para se perpetuar, para se sustentar no mercado, diante de mudanças contínuas e cada vez mais velozes na economia, na sociedade, na cultura e no comportamento. Nesse caso, a reflexão seria – seu negócio vem se renovando? Há um processo de inovação claro e definido? Qual foi a última vez que você incorporou uma nova tecnologia, incrementou algum processo, inovou em produtos e serviços? Seus sócios e colaboradores são incentivados e encontram um ambiente adequado para inovar?
Um terceiro aspecto do termo diz respeito às suas relações com todas as partes envolvidas – os stakeholders. Não só com clientes, colaboradores e acionistas, mas também parceiros, fornecedores e principalmente, com a comunidade. Avalie: essas relações estão sólidas, positivas e baseadas no princípio do “ganha/ganha”? Sua proposição de valor é relevante para a comunidade? Poderia ser mais relevante? Não poderia estar aí um diferencial? As relações são baseadas no respeito e na transparência?
Por fim, quero destacar um dos aspectos mais positivos da sustentabilidade para os negócios, que é seu entendimento como oportunidade da economia verde. Ou seja, negócios advindos dessa nova “onda” de comprometimento ambiental, social e econômico, fruto dos fatores anteriores e que ganha força a partir da intersecção com a economia criativa e de um novo mercado consumidor (crescente) que vem dando preferência a produtos e serviços “socialmente responsáveis ”. Esses negócios podem ter várias vertentes, vou citar apenas três exemplos (e preferi alguns nacionais para mostrar o que se está fazendo aqui).
– Descarte correto – caso de destaque que vem do estado do Amazonas, transformando o lixo tecnológico em matéria prima para educação, empreendedorismo e inclusão digital.
– Gatos de rua – idealizado pelo designer Beto Kelner, a partir da reciclagem de materiais são criados objetos de decoração, jóias, luminárias – com inclusão social de jovens.
Peças de design do projeto Gatos de Rua que usa materiais reciclados e ainda oferece formação profissional de artesãos
– Seivabrasilis – projeto ainda em fase experimental para automação da tecnologia de irrigação, reduzindo custos tanto com água quanto com energia elétrica.
Para encerrar, convido para uma última reflexão sobre o tema a partir do trecho de artigo de Oded Grajew, publicado no site do instituto Ethos, que contrapõe o que é sustentável com o que é insustentável:
“Esgotar recursos naturais não é sustentável. Reciclar e evitar desperdícios são sustentáveis. Corrupção é insustentável. Ética é sustentável. Violência é insustentável. Paz é sustentável.
Desigualdade é insustentável. Justiça social é sustentável. Baixos indicadores educacionais são insustentáveis. Educação de qualidade para todos é sustentável.
Ditadura e autoritarismo são insustentáveis. Democracia é sustentável.
Trabalho escravo e desemprego são insustentáveis. Trabalho decente para todos é sustentável.
Poluição é insustentável. Ar e águas limpos são sustentáveis. Encher as cidades de carros é insustentável. Transporte coletivo e de bicicletas é sustentável.
Solidariedade é sustentável. Individualismo é insustentável.
Cidade comandada pela especulação imobiliária é insustentável. Cidade planejada para que cada habitante tenha moradia digna, trabalho, serviços e equipamentos públicos por perto é sustentável.
Sociedade que maltrata crianças, idosos e deficientes não é sustentável. Sociedade que cuida de todos é sustentável.
Evidências e dados científicos mostram que o atual modelo de desenvolvimento é insustentável, ameaçando inclusive a própria sobrevivência da espécie humana.”
Espero que tenha feito você pensar sobre a sustentabilidade, identificando principalmente oportunidades a partir dela. Pode ser muito bom para o planeta – e melhor ainda para sua empresa. Boa semana!
Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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