A pergunta chegou através da fan-page que mantenho noFacebook: “Mestre, bom dia! Estou assumindo a liderança da Liga de Empreendedorismo e dentre várias outras tarefas, tenho como dever analisar e prever tendências que possam ser incluídas no sistema de ensino da Universidade. Estive lendo e pesquisando sobre Design Thinking e lembrei imediatamente do senhor quando vi o conteúdo.Essa abordagem do Design Thinking nas Universidades, como se daria esse processo? Seria incluído como matéria ou como parte de uma postura/metodologia?
Edinho Goes”
Olá Edinho.Obrigado pela pergunta. Muito oportuna.
O jeito do pensar do designer vem sendo cada vez mais necessário para dar respostas aos novos desafios, cada vez mais complexos. Na verdade, o design já superou sua condição de “utilidade” para projetar produtos e serviços e vem ganhando força como estratégia corporativa – propondo um novo jeito no modelo de trabalhar – e também um novo jeito de aprender e ensinar. Essa é uma das afirmações da revista americanaHarvard Business Review de setembro, cuja edição destaca o tema. Um dos artigos aponta cinco princípios da cultura do design (que deveriam ser adotados por todas as organizações que desejam prosperar). Comento cada um, tendo como pano de fundo suas perguntas e pensando o uso do design thinking no sistema de ensino de uma universidade que quer formar empreendedores.
1. Focar na experiência do usuário, especialmente a experiência emocional.O universitário precisa de aulas que sejam tão interessantes que ele prefira ir para a classe do que fazer outra coisa. E isso vale para o professor. Portanto, pensar cada encontro como uma experiência única para a turma é tão importante quanto o conteúdo.
2. Criar modelos para examinar problemas complexos. As aulas devem ser pensadas como um conjunto de atividades que façam todo o sentido para a realidade do aluno, com conteúdos úteis (que precisam também ser apresentados dessa maneira). A sala de aula pode ser vista como um laboratório, onde o aluno possa formular possíveis modelos para resolver problemas complexos (sempre respeitando o programa da disciplina).
3. Usar protótipos para experimentar potenciais soluções. Prototipar é dar vida às ideias, aos conteúdos. As profissões mais importantes num futuro próximo sequer foram inventadas. Quem iria imaginar, há 15 anos, que as empresas teriam Diretores de Social Media ou que todo negócio precisaria ter uma presença digital na Internet (e provavelmente, um e-commerce)? A universidade deve ser o espaço para descobrir e criar as futuras profissões (que vão estar no mercado nos próximos anos).
4. Tolerar erros. A sala de aula deve ser o local para o erro. Devemos acertar é na vida. Por isso devemos errar quando estivermos na escola. Quanto mais os alunos errarem no ambiente controlado, mais rápido e relevante será o aprendizado. Os alunos devem ser incentivados a fazer para aprender. Se errar, não há problemas, pelo contrário, o erro ensina. A princípio, na escola, todos são pré-dispostos a apoiar, entender e aprender juntos (ao contrário do mercado, que, dependendo do erro, se os riscos não forem calculados, poderá trazer consequências desagradáveis).
5. Expressar pensamentos sem restrições. A diversidade é fundamental no processo educativo. Promover e apoiar uma cultura que incentive que as ideias sejam livremente expressadas, compartilhadas, aprimoradas, criticadas é condição para a criatividade aplicada a projetos, produtos e empreendimentos.Ao considerar esses princípios para responder suas perguntas, podemos concluir que o Design Thinking deve ser incorporado tanto como matéria (para que todos se instrumentalizem com a teoria, suas ferramentas e processos), mas principalmente como cultura (que é como prefiro chamar o que você citou como postura/metodologia).Espero que tenha ajudado a esclarecer suas dúvidas sobre o uso do design thinking no ensino do empreendedorismo universitário.
Para se aprofundar no assunto, existem várias iniciativas que já tratam do tema na educação. No Brasil destaco a plataforma http://www.dtparaeducadores.org.br/site/ que distribui um toolkit gratuito e adaptado à realidade nacional a partir de uma iniciativa original da IDEO. Obrigado por sua pergunta e parabéns pela iniciativa!Se você também quiser mandar sua pergunta, será muito bem-vinda. Pode enviar por aqui.8
Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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