Marcelo Pimenta

As primeiras lições para aprender com o fenômeno Pokemon Go

Tem me impressionado muito o desempenho desse novo jogo da Nintendo, Pokemon Go, que virou uma febre no mundo todo em poucos dias. Acredito que os resultados nos negócios – e o impacto social – permite considerar esse lançamento à categoria dos “fenômenos”, aquelas coisas que são realmente extraordinárias.

Por isso mesmo, desde que comecei a ver as primeiras notícias sobre o assunto, decidi ir nas fontes e reúno aqui algumas “descobertas” que fiz pesquisando esse novo fenômeno – no sentido de que acho ainda temos muito a aprender – tanto sobre o comportamento do consumidor, quanto no marketing e nos negócios.

Começo esse post, que será publicado em breve num site especializado, mas desde já quero compartilhar com vocês algumas considerações:

1. Vivemos sob um terreno instável

Gosto da explicação para os terremotos: a acomodação das placas tectônicas. Abaixo dos nossos pés existem imensas placas sobre as quais nos apoiamos e temos a sensação de estabilidade (mesmo girando sem parar em torno do próprio eixo e em torno do sol, mas esse é outro assunto).

Pois bem, o gráfico abaixo mostra o comportamento dos usuários do sistema iOS no dia 11 de julho nos Estados Unidos.  Em quatro dias, superou o Facebook, que tentava não se deixar ultrapassar pelo Snapchat, mas foi surpreendido por  um novo competidor que  “correndo por fora” está deixando o gigante da marca azul comendo poeira. As rochas tectônicas se mexeram.

https://techcrunch.com/2016/07/13/pokemon-go-tops-twitters-daily-users-sees-more-engagement-than-facebook/?ncid=rss&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+Techcrunch+%28TechCrunch%29&utm_content=FaceBook&sr_share=facebook

2. Um sucesso construído em 20 anos

Se você acha que um sucesso desses acontece por acaso, não se engane. O escritor Roger James Hamilton publicou na sua página do Facebook a trajetória do criador do Pokemon Go, John Hanke.

Passo 1 – Seu primeiro projeto foi ter desenvolvido um  jogo multiplayer chamado o ‘Meridian 59’, em 1996, que tinha por objetivo “mapear o mundo”.

Passo 2 –  Em 2000 Hanke lança o “Keyhole”, jogo que passa a utilizar fotos de satélites.

Passo 3 – Em 2004 o Google compra o Keyhole e o transforma no que hoje é o Google Earth.

Passo 4 – Entre 2004 e 2010 Hanke passa a integrar o time de geolocalização do Google, trabalhando em projetos como o Google Street View e Google Maps.

Passo 5 -Em 2010, Hanke lança a Niantic Labs, como uma startup com o apoio do Google para criar um jogo baseado em mapas.

Passo 6 – Em 2012, a Niantic lança seu primeiro jogo, “Ingress”.

Passo 7 – Em 1º de abril de 2014, Google e Nintendo se unem para fazer uma ação de “brincadeira” no dia da mentira, onde Pokemons apareceriam de forma inusitada no Google Street View. A ação vira um sucesso e Hanke decide investir na ideia para criar um jogo.

Passo 8 – O criador do Pokemon Go decide utilizar os pontos de encontros mapeados pelos usuários do jogo Ingress como primeiros locais para se transformarem em “Pokespots”.

Passo 9 – Entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016 Hanke consegue US$ 25 milhões com o Google, Nintendo, The Pokemon Company  e outros investidores para desenvolver Pokemon Go e lançar esse ano.

Passo 10 – O produto é lançado dia 6 de julho nos Estados Unidos se tornando o aplicativo mais baixado nos países em que foi lançado e se tornando no fenômeno que está sendo. Ou seja: nada é do dia para a noite. Nesse caso, foram 20 anos de trabalho hard.

3. Geração de caixa garante valorização instantânea

As ações da Nintendo valorizaram 90% em oito dias. Mesmo que o Pokemon Go em um ano vire uma febre passageira (quem lembra do Second Life, que iria mudar tudo e praticamente desapareceu)  as previsões são de que as ações só cresçam num futuro próximo.  A Business Insider, fonte da imagem abaixo, mostra o desempenho das ações da Nintendo, nos oito primeiros dias do produto, na bolsa de Tókio.  O faturamento diário apenas para o sistema operacional iOS, nos Estados Unidos, está entre US$ 1,6 Milhão  e US$ 2 milhões por dia segundo o TechCrunch. Analistas já estimam o valor de mercado da Nintendo em U$ 12 bilhões segundo o Hollywood Reporter. A Reuters indica que o valor adicionado devido ao sucesso do Pokemon Go é de  US$ 7,5 bilhões.

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4. É possível despertar o desejo a partir de “intangíveis”

O vídeo abaixo mostra o que as pessoas estão fazendo para encontrar os Pokemons. O fato de saber que existia uma dessas figuras no parque as pessoas começaram a correr atrás do novo objeto de desejo. Esse post do Link Estadão revela a nova onda: “A vida nos EUA anda bem diferente desde que o jogo foi lançado. Em cada esquina, é possível encontrar alguém com os olhos atentos ao celular, andando em círculos e parecendo um pouco perdido. Não tem erro: é sempre um jogador de Pokémon Go.”.

https://www.youtube.com/watch?v=ETg1lm2P1RQ

5. O marketing no ponto de venda nunca mais será o mesmo

O caso do Bar L’inizo Pizza, em Long Island, se tornou famoso no mundo inteiro.  O dono de uma pizzaria decidiu investir US$ 10,00 para ter uma dúzia de Pokemons no seu estabelecimento e de uma hora para outra as pessoas começaram a entrar no estabelecimento procurando Pokemons. As vendas aumentaram 75% de  um dia para o outro. Na mesma hora vários sites já começaram a anunciar que o McDonalds estaria já planejando uma campanha mundial onde ao invés de dar objetos “de verdade”, passaria a oferecer “pokemons virtuais” como brindes para suas ofertas. O fenômeno também já foi comprovado em outro teste, na cafeteria Huge, e você pode ler os detalhes aqui.

O assunto ficou ainda mais sério quando o guia de recomendações Yelp anunciou na sexta-feira, dia 15, que vai ter um filtro para indicar os locais onde estão os Pokemons. A verdade é que, se você  pensar, shoppings centers, parques temáticos, lojas de departamentos podem usufruir dessa nova tecnologia para atrair clientes com Pokemons exclusivos. O merchandising marketing talvez nunca mais seja o mesmo.

6. A incerteza é total

Por mais que esteja sendo um sucesso de lançamento, a incerteza sobre o futuro do jogo é total. No Canadá e em outras partes do mundo começam a ser relatados acidentes devido a atenção que o jogo exige. Nesse caso, os motoristas bateram o carro enquanto procuram Pokemons. Qual o efeito isso pode ter perto de penhascos, sacadas, terraços?

Por outro lado, há quem levante os perigos do que a Nintendo fará com os dados dos usuários. Seu email, telefone, cartão de crédito, onde você está, quais amigos estão perto, dia, data e horário são apenas algumas das informações que você passa a compartilhar – sem que a politica de privacidade do jogo informe claramente o que eles podem fazer suas “informações pessoais”. Seus dados poderão ser vendidos a outras empresas, a governos, enfim, você abre ainda mais a pouca privacidade digital que você já tem. O jornalista Danilo Barba escreveu  no LinkedIn Pulse: “a Niantic pode enviar informações pessoalmente identificáveis (PII) para as autoridades, ou vendê-las, ou ainda compartilhar com outras indústrias e mercados, ou mesmo guardar em países estrangeiros com legislação de privacidade mais frouxa”.

Ainda voltarei a esse tema. Mas por enquanto, ficamos na expectativa do lançamento no Brasil (há sites informando que será nas próximas horas) e qual será a receptividade – de usuários e das marcas – à essa novidade que já é um marco na história do marketing digital.

Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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