Tem me impressionado muito o desempenho desse novo jogo da Nintendo, Pokemon Go, que virou uma febre no mundo todo em poucos dias. Acredito que os resultados nos negócios – e o impacto social – permite considerar esse lançamento à categoria dos “fenômenos”, aquelas coisas que são realmente extraordinárias.
Por isso mesmo, desde que comecei a ver as primeiras notícias sobre o assunto, decidi ir nas fontes e reúno aqui algumas “descobertas” que fiz pesquisando esse novo fenômeno – no sentido de que acho ainda temos muito a aprender – tanto sobre o comportamento do consumidor, quanto no marketing e nos negócios.
Começo esse post, que será publicado em breve num site especializado, mas desde já quero compartilhar com vocês algumas considerações:
1. Vivemos sob um terreno instável
Gosto da explicação para os terremotos: a acomodação das placas tectônicas. Abaixo dos nossos pés existem imensas placas sobre as quais nos apoiamos e temos a sensação de estabilidade (mesmo girando sem parar em torno do próprio eixo e em torno do sol, mas esse é outro assunto).
Pois bem, o gráfico abaixo mostra o comportamento dos usuários do sistema iOS no dia 11 de julho nos Estados Unidos. Em quatro dias, superou o Facebook, que tentava não se deixar ultrapassar pelo Snapchat, mas foi surpreendido por um novo competidor que “correndo por fora” está deixando o gigante da marca azul comendo poeira. As rochas tectônicas se mexeram.
2. Um sucesso construído em 20 anos
Se você acha que um sucesso desses acontece por acaso, não se engane. O escritor Roger James Hamilton publicou na sua página do Facebook a trajetória do criador do Pokemon Go, John Hanke.
Passo 1 – Seu primeiro projeto foi ter desenvolvido um jogo multiplayer chamado o ‘Meridian 59’, em 1996, que tinha por objetivo “mapear o mundo”.
Passo 2 – Em 2000 Hanke lança o “Keyhole”, jogo que passa a utilizar fotos de satélites.
Passo 3 – Em 2004 o Google compra o Keyhole e o transforma no que hoje é o Google Earth.
Passo 4 – Entre 2004 e 2010 Hanke passa a integrar o time de geolocalização do Google, trabalhando em projetos como o Google Street View e Google Maps.
Passo 5 -Em 2010, Hanke lança a Niantic Labs, como uma startup com o apoio do Google para criar um jogo baseado em mapas.
Passo 6 – Em 2012, a Niantic lança seu primeiro jogo, “Ingress”.
Passo 7 – Em 1º de abril de 2014, Google e Nintendo se unem para fazer uma ação de “brincadeira” no dia da mentira, onde Pokemons apareceriam de forma inusitada no Google Street View. A ação vira um sucesso e Hanke decide investir na ideia para criar um jogo.
Passo 8 – O criador do Pokemon Go decide utilizar os pontos de encontros mapeados pelos usuários do jogo Ingress como primeiros locais para se transformarem em “Pokespots”.
Passo 9 – Entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016 Hanke consegue US$ 25 milhões com o Google, Nintendo, The Pokemon Company e outros investidores para desenvolver Pokemon Go e lançar esse ano.
Passo 10 – O produto é lançado dia 6 de julho nos Estados Unidos se tornando o aplicativo mais baixado nos países em que foi lançado e se tornando no fenômeno que está sendo. Ou seja: nada é do dia para a noite. Nesse caso, foram 20 anos de trabalho hard.
3. Geração de caixa garante valorização instantânea
As ações da Nintendo valorizaram 90% em oito dias. Mesmo que o Pokemon Go em um ano vire uma febre passageira (quem lembra do Second Life, que iria mudar tudo e praticamente desapareceu) as previsões são de que as ações só cresçam num futuro próximo. A Business Insider, fonte da imagem abaixo, mostra o desempenho das ações da Nintendo, nos oito primeiros dias do produto, na bolsa de Tókio. O faturamento diário apenas para o sistema operacional iOS, nos Estados Unidos, está entre US$ 1,6 Milhão e US$ 2 milhões por dia segundo o TechCrunch. Analistas já estimam o valor de mercado da Nintendo em U$ 12 bilhões segundo o Hollywood Reporter. A Reuters indica que o valor adicionado devido ao sucesso do Pokemon Go é de US$ 7,5 bilhões.
4. É possível despertar o desejo a partir de “intangíveis”
O vídeo abaixo mostra o que as pessoas estão fazendo para encontrar os Pokemons. O fato de saber que existia uma dessas figuras no parque as pessoas começaram a correr atrás do novo objeto de desejo. Esse post do Link Estadão revela a nova onda: “A vida nos EUA anda bem diferente desde que o jogo foi lançado. Em cada esquina, é possível encontrar alguém com os olhos atentos ao celular, andando em círculos e parecendo um pouco perdido. Não tem erro: é sempre um jogador de Pokémon Go.”.
https://www.youtube.com/watch?v=ETg1lm2P1RQ
5. O marketing no ponto de venda nunca mais será o mesmo
O caso do Bar L’inizo Pizza, em Long Island, se tornou famoso no mundo inteiro. O dono de uma pizzaria decidiu investir US$ 10,00 para ter uma dúzia de Pokemons no seu estabelecimento e de uma hora para outra as pessoas começaram a entrar no estabelecimento procurando Pokemons. As vendas aumentaram 75% de um dia para o outro. Na mesma hora vários sites já começaram a anunciar que o McDonalds estaria já planejando uma campanha mundial onde ao invés de dar objetos “de verdade”, passaria a oferecer “pokemons virtuais” como brindes para suas ofertas. O fenômeno também já foi comprovado em outro teste, na cafeteria Huge, e você pode ler os detalhes aqui.
O assunto ficou ainda mais sério quando o guia de recomendações Yelp anunciou na sexta-feira, dia 15, que vai ter um filtro para indicar os locais onde estão os Pokemons. A verdade é que, se você pensar, shoppings centers, parques temáticos, lojas de departamentos podem usufruir dessa nova tecnologia para atrair clientes com Pokemons exclusivos. O merchandising marketing talvez nunca mais seja o mesmo.
6. A incerteza é total
Por mais que esteja sendo um sucesso de lançamento, a incerteza sobre o futuro do jogo é total. No Canadá e em outras partes do mundo começam a ser relatados acidentes devido a atenção que o jogo exige. Nesse caso, os motoristas bateram o carro enquanto procuram Pokemons. Qual o efeito isso pode ter perto de penhascos, sacadas, terraços?
Por outro lado, há quem levante os perigos do que a Nintendo fará com os dados dos usuários. Seu email, telefone, cartão de crédito, onde você está, quais amigos estão perto, dia, data e horário são apenas algumas das informações que você passa a compartilhar – sem que a politica de privacidade do jogo informe claramente o que eles podem fazer suas “informações pessoais”. Seus dados poderão ser vendidos a outras empresas, a governos, enfim, você abre ainda mais a pouca privacidade digital que você já tem. O jornalista Danilo Barba escreveu no LinkedIn Pulse: “a Niantic pode enviar informações pessoalmente identificáveis (PII) para as autoridades, ou vendê-las, ou ainda compartilhar com outras indústrias e mercados, ou mesmo guardar em países estrangeiros com legislação de privacidade mais frouxa”.
Ainda voltarei a esse tema. Mas por enquanto, ficamos na expectativa do lançamento no Brasil (há sites informando que será nas próximas horas) e qual será a receptividade – de usuários e das marcas – à essa novidade que já é um marco na história do marketing digital.
Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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