Recentemente o Fórum Econômico Mundial publicou o estudo Future Of Jobs onde prevê que até 2020 pelo menos cinco milhões de empregos vão desaparecer por conta da inteligência artificial, robótica, nanotecnologia e outros fatores. Por outro lado, a previsão é que pelo menos 2,1 milhões de novos empregos serão criados para atender a demanda dessa nova economia criativa, colaborativa e digital que vem sendo cada vez mais importante na geração da riqueza mundial. Os robôs não poderão fazer tudo sozinhos e o talento humano ainda será fundamental para resolver problemas, solucionar conflitos e criar experiências mágicas e inesperadas.
O professor, David Deming, destaca que soft skills como negociação e compartilhamento serão fatores cruciais para o novo perfil profissional. Ele comenta que os espaços de trabalho modernos parecem uma sala de pré-escola, onde as crianças vão constantemente trocando de projetos e papéis (e aprendendo sobre empatia e colaboração).
Tudo parece bastante alinhado com o que temos visto aqui nesse espaço com relação a empresas mais horizontais, com necessidade de processos que garantam a inovação contínua, prototipação de ideias, busca por novos modelos de negócio …
Porém, vamos agora para o final de agosto de 2016. O publicitário Caio Andrade resolveu ajudar seu amigo Bernardo a encontrar um lugar bacana para estagiar. Para isso, ele criou um formulário simples no Google Docs com a pergunta “COMO É TRABALHAR AÍ… FALE SOBRE COMO É TRABALHAR NA SUA AGÊNCIA, A RESPOSTA É ANÔNIMA”. A repercussão foi gigante e o formulário estourou o número de respostas (alguém fez uma cópia das respostas e publicou aqui). A iniciativa original virou um grupo no Facebook. Mas o triste foi ver os resultados: em sua maioria, os ambientes de trabalho são péssimos, dando espaço para pérolas como:
– “Assédio moral vindo do supervisor de contas com aval do diretor de criação. Cheguei a ser chamada de “filhinha de papai”, “Seu pai mesmo morto deve estar com vergonha de você”, “arrogante e com o rei na barriga”. Agência machista que paga menos para mulheres e tratam elas como lixo. Mães são demitidas assim que voltam da licença e vc de quebra ainda fica perturbada psicologicamente. Agência de atendimento… criação não tem voz e nem vez, apenas deve trabalhar e sem falar um piu. Vou em psicólogo até hj e tomei prozac por ataques de pânico por muito tempo. Voltar para lá? Jamais.”
-“ Dono completamente maluco, insano, coloca todo mundo para trabalhar, virar noite por um salário ridículo, enquanto ele a mulher que são sócios da agência, viajam para Europa e a agência é administrada pelos diretores incompetentes do lugar.”
-“Fui mandado embora enquanto estava no hospital, com crise renal. Pelo whatsapp. Por uma atendimento incompetente que diz que ama os animais mas enfia o pé em qualquer couro de vaca que vê pela frente.”
– “A agência é como Game of Thrones: muito sexo, disputas internas e cabeças rolando.”
Claro que também há elogios como:
– “Muito foda. Sinceramente não esperava que fosse tão boa quanto se mostrou, é a melhor agência que eu trabalhei na vida.100% verdadeira, aconchegante e principalmente 0% de ego.”
– “Um lugar muito agradável para se trabalhar, organizado, processos funcionam, pessoas muito experientes, amigas e amáveis, sempre dispostas a ajudar. Uma equipe de verdade!”
A principal reflexão é: o que passa na cabeça desses empresários que criam celeiros de vaidade, ambientes doentios onde os empregados são tratados como simples recursos? Será que eles não estão antenados com o que está acontecendo?
Ou será que o mercado reconhece e recompensa essas práticas – e por isso esses lugares sobrevivem?
Sinceramente é um paradoxo que me intriga. E vocês, o que acham que vai acontecer? Quem vai vencer essa disputa ou haverá um equilíbrio entre essas forças? Será que são esses os empregos que estão acabando?
Publicado originalmente no Startupi.
Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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