A conferência sobre Benefício da Inteligência Artificial, realizada pelo Future of Life Institute, “organização voluntária de investigação e divulgação na área de Boston que trabalha para mitigar os riscos existenciais enfrentados pela humanidade”, legou uma lista de 23 princípios invocando a uso positivo no desenvolvimento da Inteligência Artificial, sob o ponto de vista das pesquisas, dos valores e ética e de visão de longo prazo.
Stephen Hawking, que é pessimista quanto ao tema, assinou esta lista. Em 2014, o físico disse à BBC, dentre outras (que você pode ler aqui), que “o desenvolvimento da plena inteligência artificial poderia significar o fim da raça humana”.
Não há como duvidar que a inteligência artificial vem ganhando celeridade no desenvolvimento de soluções, sejam equipamento ou softwares, relevantes. Há um ano, o site Futuro das Coisas listou 42 ferramentas de inteligência artificial para usar hoje.
Ao mesmo tempo, crescem os Big e Fast Data e acelera-se o desenvolvimento de robôs. Somando a capacidade e velocidade de armazenamento e recuperação da informação, base para a inteligência artificial, com os avanços da robótica, é de se esperar que robôs inteligentes estão ficando cada vez mais próximos de nós.
Não sei o que assusta mais, se a inteligência propriamente dita ou a máquina inteligente. Imagino que uma máquina que se pareça com gente, sempre irá causar sentimentos estranhos: medo, admiração, surpresa, desconfiança, preocupação, pensamentos bons e maus. Mas os robôs humanoides já estão por aí, mesmo que com inteligência limitada.
A Honda criou uma versão motociclística utilizando o sistema de equilíbrio do robô humanoide Asimo.
É fato que o ser humano se sente ameaçado com inovações, com mudanças radicais que, sabe de antemão, irão interferir, modificar, transformar a sua relação com o mundo, com a sociedade e consigo mesmo. Que possivelmente afetarão a ética, a moral e as leis.
Otimistas e pessimistas, adeptos ou hostis fizeram e continuarão fazendo previsões e especulações. A vantagem de olhar para ambos os lados é poder refletir sobre diferentes pensamentos e buscar uma compreensão individual, um caminho favorável para lidar com o inevitável.
Os 23 princípios refletem a preocupação, ou a contribuição dos 2400 signatários que dialogaram durante a conferência sobre Benefício da Inteligência Artificial. O que talvez não esteja sendo lembrado, é que Isaak Asimov, o mestre que nasceu russo e cresceu americano, escritor e cientista, deixou um legado útil ao século XXI, quando tratou das leis da robótica.
No livro Eu robô (1950) ele já imaginava controlar e limitar os comportamentos dos robôs, ainda que em tempo de ficção, e criou três leis, verdadeiros princípios, que cabem nos dias de hoje:
- Um: um robô não pode ferir um ser humano, ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
- Dois: um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
- Três: um robô deve proteger sua própria existência enquanto tal proteção não entrar em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Depois, imagino que ele achou insuficiente as três leis, criou a Lei Zero: Um robô não pode causar mal, ou por negligência, permitir que o mal aconteça à humanidade.
Olho para essas leis e penso na substituição da palavra “robô” por outras palavras como “máquina”, “software”, “inovação”, “negócio”, “decisão”…. e percebo que elas cabem, fazem sentido nas frases. Porque não nos aproveitamos mais de Asimov?
Li recentemente o artigo 2017 marcará o início da era dos robôs? de Mark Mardell, publicado pela BBC News. Nele há esta citação: “Uma pesquisa recente da Universidade de Oxford, no Reino Unido, sugere que cerca de metade dos postos de trabalho existentes hoje nos EUA serão automatizados até 2033.” A substituição de postos de trabalho não é novidade. Ela vem acontecendo nos últimos anos em função de recursos ofertados pelas tecnologias. Exemplos como a substituição de caixas com pessoas por caixas automatizados, os terminais e aplicativos bancários, os atendimentos do tipo self-service dentre outros, já roubaram o trabalho de inúmeras pessoas. Sabemos que a tendência é o crescimento de soluções automatizadas. Não seria o momento de olhar para as leis de Asimov? Ou de assinar, mesmo que extraoficialmente a lista dos 23 princípios?
Entre ficção e realidade, muitas vezes há apenas o fator tempo.
Prova disso é o texto do conto Todos os problemas do mundo, do livro Nove amanhãs (1953), de Issac Asimov, é claro! Faça suas analogias.
“A maior indústria da Terra se centrava ao redor de Multivac – Multivac, o computador gigante que tinha crescido por cinquenta anos até que suas várias ramificações tivessem se espalhado de Washington, D.C. aos subúrbios e que seus tentáculos atingissem cada cidade na Terra. Um exército de serventes civis o alimentava com dados constantemente e outro exército correlacionava e interpretava as respostas que ele dava. Um batalhão de engenheiros patrulhava seu interior enquanto minas e fábricas se consumiam para manter seus estoques de reserva de partes sobressalentes sempre completos, sempre acurados, sempre satisfatórios de todas as maneiras. Multivac dirigia a economia da Terra e ajudava a ciência terrestre. Mais importante de tudo, era o repositório central de todos os fatos conhecidos sobre cada terráqueo E a cada dia era parte das funções de Multivac tomar os quatro bilhões de conjuntos de fatos sobre cada ser humano que preenchiam seus arquivos e extrapolar esses fatos para o dia seguinte. Cada Departamento Correcional na Terra recebia os dados apropriados para sua própria jurisdição, o conjunto todo de dados era apresentado em um grande relatório à Diretoria Correcional Central em Washington, D.C.”
Por Márcia Matos. Jornalista, especialista em educação a distância, estudiosa do mundo digital, com muita experiência em Tecnologia da Informação, consultora e palestrante, com vários artigos publicados. Ex- funcionária do SEBRAE e atualmente, na equipe do Laboratorium, é coautora do TREM – Trilha de Referência para o Empreendedor.