Marcelo Pimenta

O que os dois primeiros anos do Cubo podem nos ensinar na criação de espaços inovativos

Menta90

“Um ambiente inspirador, para conectar ideias e pessoas brilhantes com vontade de transformar negócios, tecnologia e a vida das pessoas para melhor.” Esta é a definição que encontramos na homepage do Cubo Network, uma hub de empreendedorismo criada pelo Banco Itaú e pelo fundo de capital empreendedor Redpoint eventures, que tem se consolidado como um dos epicentros do empreendedorismo e da inovação na América Latina e no mundo. O espaço, que funciona na capital paulista, completa dois anos de fundação em setembro, e atualmente trabalha conectando suas 56 startups residentes a diversas pessoas e empresas, promovendo novos negócios.

À frente do Cubo está o empreendedor Flávio Pripas, que participa desta iniciativa desde antes da inauguração do espaço, em 2015. Este artigo foi construído a partir de um papo meu com ele, quando Pripas contou detalhes de sua experiência como líder do Cubo e fez uma reflexão sobre a função e importância dos espaços inovativos no Brasil. Flávio já foi executivo da área financeira, criou a startup Fashion.Me – uma rede social de moda -, e a Bitinvest – empresa na área de tecnologia da informação e Bitcoin.

Partindo de uma lacuna no mercado

Assim como qualquer empreendimento de sucesso, o Cubo foi pensado como solução para uma demanda do mercado brasileiro, carente de espaços para inovação. Pripas cita um estudo realizado pela UP Global, que elencou cinco variáveis para um ambiente de inovação florescer: acesso a talentos; acesso a capital; cultura empreendedora; ambiente regulatório; e densidade. “Percebemos que, de todas as variáveis, conseguimos preencher a lacuna de densidade, criar o espaço onde pessoas podem se encontrar para falar de inovação, de empreendedorismo, tecnologia, novos modelos de negócio, novas formas de trabalhar. E foi com essa visão que começamos a construir o Cubo. Quase dois anos depois, podemos afirmar que preenchemos, de alguma forma, essa lacuna de densidade”, explica o empreendedor. Diariamente, 600 pessoas circulam pelo Cubo.

Visão e liderança

Para a construção de um espaço de coworking como o Cubo, é importante ouvir os integrantes do ecossistema de inovação e, contando com sua experiência e feedback, testar os caminhos possíveis para o fomento de uma cultura empreendedora. “Tínhamos uma visão, sabíamos mais ou menos o caminho que queríamos seguir, mas não exatamente como as coisas iriam acontecer. É praticamente como uma startup funciona, ela levanta hipóteses, vai testando e, aquelas que funcionam, ela dá continuidade”, observa Pripas.
Outro fator interessante para o funcionamento do espaço é a própria liderança, que deve conhecer o público-alvo (neste caso, os empreendedores) para atender melhor suas necessidades, a exemplo do próprio Flávio Pripas. “O Cubo é um ramo de conexão, é um local de conexão entre empreendedor e empreendedor, empreendedor e investidor, empreendedor e universidade, empreendedor e grande empresa. Você vê que eu sempre coloco o empreendedor no meio, pois é um ramo de conexão com todos os agentes que são interessantes para ele. Então, uma das melhores práticas no Cubo é ter um empreendedor liderando. Alguém que já veio do ecossistema, já tinha os contatos – neste caso, sou eu – e atua para fomentar essas conexões”, comenta ele.

Equipe estratégica

Tão importante quanto um líder ligado à inovação e empreendedorismo é ter uma equipe bem estruturada, embora enxuta. Para Pripas, um espaço inovativo precisa desenvolver pelo menos três áreas: relacionamento com o mercado, eventos e backoffice – pagamentos, recebimentos, etc. O Cubo, por exemplo, começou com uma equipe de três pessoas, uma para cada área.

Conexões em foco

Reuniões e muita troca de conhecimentos fazem parte do dia a dia daqueles que participam do Cubo. Tanto que, num dia mais movimentado, Flávio participou de 19 encontros (isso mesmo, dezenove compromissos num mesmo dia). Segundo ele, sua função é tornar o espaço mais dinâmico. “Cada reunião que faço, faço sempre em ambientes abertos e, quem eu vejo passando na rua, chamo para aquela conversa. Tudo isso cria uma dinâmica de conexão onde as pessoas que estão ali já me conhecem e estão lá para quebrar barreiras. No Brasil, não estamos acostumados a fazer networking de uma forma tão aberta como você vê no mercado americano. Isso é uma característica que estamos tentando trazer para cá, você explorar a oportunidade em qualquer lugar, sentado num café, etc.”, cita.
Pripas destaca ainda o papel do Cubo na promoção do que ele chama de encontros orgânicos. Diferente das reuniões tradicionais, estes encontros ocorrem de forma inesperada. “Hoje, você vai no Cubo conversar com uma pessoa e acaba conversando com três ou quatro outras pessoas, que você nem sabia que estavam ali. Na minha opinião, quando se consegue criar esse tipo de dinâmica, está indo pelo caminho certo.”

Uma sala de reuniões inovadora

Com tantas reuniões realizadas diariamente, era de se esperar que o Flávio passasse a maior parte do tempo em sua sala, recebendo as pessoas. Mas não. Na verdade, o Cubo tem um café logo na entrada, um dos pontos fortes voltados para a arquitetura, como cita o empreendedor. “Ali é minha sala de reunião oficial. Esse café na entrada, público, aberto, é um polo de conexão e um grande acerto nosso. Além disso, recebemos muitos eventos em nosso espaço, e fazemos curadoria deles. Na maioria das vezes, recusamos eventos que gerariam alguma receita, mas que não acrescentariam valor para o ecossistema. E aceitamos eventos que não geram receita, mas trazem valor. É algo que nos damos o direito de trazer para o Cubo, porque somos uma associação sem fins lucrativos. Os eventos funcionam para isto: toda hora tenho ali estudante, investidor, professor, e, ao atraí-los lá para dentro, eles acabam alimentando esse processo de conexão, que é o que queremos fomentar.”

Estruturando os conteúdos

Este é um desafio e tanto, mas organizar os conteúdos e compartilhá-los em diferentes formatos ajuda a atrair e conectar mais pessoas. No caso do Cubo, o espaço funcionou por cerca de um ano e oito meses de maneira reativa, respondendo às necessidades apresentadas pelo ecossistema de inovação. Recentemente, já com maior conhecimento sobre seu público, a equipe separou as diversas atividades e temas recorrentes no Cubo em 11 programas. Pripas afirma que foram “percebendo quais as áreas onde poderíamos organizar grandes guarda-chuvas de conteúdo e publicar isso no mercado de uma forma mais estruturada. Seriam áreas onde o mercado teria algum gap, alguma necessidade em específico, e foi isso que fizemos com os programas. Eles não mudam muito o dia a dia do Cubo, que vai continuar sendo muito parecido, só que os programas colocam, de forma estruturada, a comunicação mais organizada daquilo que estamos fazendo ao longo do ano. Vou dar alguns exemplos: temos um programa de VC para Founders, que é um assunto extremamente recorrente. O fundador de uma startup quer saber quando ele vai estar preparado para receber investimento, como falar com um investidor, onde achar o investidor, como fazer a negociação, quais os termos que estarão no eventual contrato ou numa eventual oferta. Então, juntamos como se fossem seis aulas, que vão acontecer ao longo de seis ou sete meses, onde investidores de renome do nosso mercado vão compartilhar essa experiência com os empreendedores.”
O meetup inovação é mais um exemplo de programa, voltado para profissionais de inovação de grandes empresas. “Esse profissional tem um desafio enorme, porque ele fala de inovação e tem uma dificuldade para ver na prática aquela inovação. Percebemos que o trabalho da grande empresa com a startup é uma ferramenta para que o profissional possa tangibilizar a inovação dentro da grande empresa. São três palavras que definem uma startup: escala, velocidade e execução. A grande empresa tem escala, tem execução, mas não tem velocidade. Juntar esses dois lados é transformador. Nesse meetup para diretores de inovação, vamos compartilhar as melhores práticas, cases de sucesso, cases de fracasso, onde conseguimos colocar uma empresa lado a lado com uma startup para que possam inovar juntas, e tangibilizar aquilo que tanto se fala”, detalha Pripas.

Unindo startups e grandes empresas

Em prol da inovação, ambientes como o Cubo também se dedicam a essa tarefa árdua. Para inovar dentro de grandes companhias, é preciso ter pessoas que estejam a fim de mudar processos, quebrar regras e abrir espaço para o novo. Como diz Pripas, todo processo na grande empresa é feito para diminuir riscos, e startup é sinônimo de risco. Ou seja, em teoria, são dois mundos que não se conversam. Programas como o meetup inovação servem como catalisadores nesse processo de aproximar startups e grandes companhias. “Uma das maiores empresas do ramo de cosméticos do Brasil chegou no Cubo, gostou de uma startup e queria comprar o produto daquela startup. O CEO, quando quer um novo produto, passa pro gerente executar o processo. Então, o gerente dessa grande empresa mandou a planilha de homologação pra startup, que eram 452 itens. A planilha falava de segregação de funções, quem era o chief disso, chief daquilo. A startup eram só três pessoas, então o empreendedor virou pra mim e disse: ‘Flávio, o que eu faço com essa planilha?’ Eu liguei pro CEO, pedi para ele cancelar a planilha, ele cancelou, contratou a startup foi um super sucesso. Esse caso, além de ser real, ilustra bem o trabalho que a gente faz de diminuir a distância entre grandes empresas e startups”, relata o diretor do Cubo.

Você, empreendedor, pode conhecer mais sobre esta iniciativa pelas redes sociais do cubo Network, ou através do site: https://cubo.network/

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Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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