Os resultados financeiros apresentados pelas chamadas startups “unicórnios” estão preocupando os investidores. Elas consomem muitos investimentos em marketing para conquistar clientes, mas têm dificuldade para comprovar a capacidade de gerar e sustentar lucratividade. Segundo o ranking da Fortune, são 174 empresas emergentes que conseguem esse patamar que forma o seleto grupo de unicórnios, ou seja, negócios com valor de mercado igual ou superior a US$ 1 bilhão. Na lista, marcas já famosas como Uber, AirBnb, DropBox, Shazam, Hootsuite, entre outras.
Todas têm em comum o fato de ter um valuation infinitamente superior ao seu faturamento. Aliás, encontrar informações sobre faturamento e despesas dessas empresas é algo muito difícil. Os relatórios preferem destacar o aumento do números de viagens(Uber), do número de reservas e quartos disponíveis (AirBnB), número de documentos compartilhados (Dropbox), porém é uma tarefa quase impossível saber quanto essas empresas estão realmente faturando, qual o montante das despesas, qual a margem de contribuição. O que se sabe é que o fluxo de caixa vem sendo financiado por sucessivas rodadas de captação e investimento – e isso tem feito os analistas lembrarem do que foi a bolha “ponto.com“.
A preocupação com a sobrevivência dos negócios vem fazendo com que os investidores estejam olhando com bons olhos as “coackroachs startups” – ao invés de ficar perseguindo unicórnios. ”Tudo é sobre resiliência agora para enfrentar a tempestade”. A justificativa é de Tim McSweeney, diretor do fundo de investimento Restorations Partners, focado em tecnologia. “Enquanto o unicórnio é um animal mítico, uma barata pode sobreviver a uma guerra nuclear” complementa ele,no artigo de Oscar William-Grut para o Business Insider, publicado na semana passada, em que revela o temor de investidores com relação aos negócios bilionários que podem não sustentar sua posição de mercado.
Na vida real, “as cucarachas”, ao contrário das criaturas que só existem nos contos de fada, são muito resistentes. Com mais de 320 milhões de anos, preferem doces e alimentos gordurosos de origem animal, mas comem qualquer coisa. Podem viver uma semana sem beber água, até um mês sem comer e – acredite – semanas sem cabeça! Nos negócios, são aqueles que não se preocupam tanto com o crescimento rápido quanto com sua sustentabilidade e perenidade. Há também um certo desprezo por aquelas propostas de negócios que se apresentando fancy, cool e hipster, mas que no final do mês têm vergonha de mostrar o saldo da conta do banco. Em resumo, pônei de chifre pode ser mais fashion, mas é a barata que está pagando as contas no final do mês.
Sabe aquele ditado “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”? Um pássaro na mão (um negócio que se sustenta e gera lucro), pode estar valendo mais do que dois pássaros voando (prometem lucros a longo prazo, mas não conseguem comprovar capacidade de geração de valor).
Talvez nesse mundo de transformações constantes e cada vez mais rápida, estejamos entrando num momento em que todos – clientes, empregados, investidores, eleitores, filhos – estão se cansando de promessas. Por isso, a palavra de ordem continua sendo: entregar
Por Márcia Matos. Jornalista, especialista em educação a distância, estudiosa do mundo digital, com muita experiência em Tecnologia da Informação, consultora e palestrante, com vários artigos publicados. Ex- funcionária do SEBRAE e atualmente, na equipe do Laboratorium, é coautora do TREM – Trilha de Referência para o Empreendedor.