O mundo dos negócios vem se revelando cada vez mais complexo de ser entendido. É preciso não apenas consumir a informação, mas buscar contextualizá-la para tentar compreender as oportunidades e antever as ameaças que podem surgir no segmento de atuação.
Um exemplo é a notícia de que a Amazon, gigante do comércio eletrônico, abriu as portas da “Amazon Books”, no Campus da Universidade de Seatlle “como uma extensão física do site Amazon.com”. O lançamento oficial teve tom enfático: “não estamos falando metaforicamente em abrir as portas, elas são reais, nosso espaço fica ao lado da Banana Republic”, publicou Jennifer Cast, Vice Presidente da Amazon Books.
Além dos livros em papel, a loja permite a compra de todo o acervo de produtos que está em Amazon.com incluindo livros em Kindle, Echo, Fire TV e outras novidades.
As fotos divulgadas no site mostram diferenciais frente às livrarias tradicionais, reforçando as pontes com a natureza digital da empresa e valorizando o conteúdo colaborativo criado pelos leitores. Três destaques:
A estratégia da Amazon pode causar espanto, principalmente ao analisarmos o fato concomitante à previsão feita por John Chambers, ex-CEO da Cisco (responsável pela empresa chegar a um faturamento de US$ 47 bilhões no ano passado). Ele está fazendo palestras pelo mundo alertando que “40% das empresas que conhecemos hoje vão desaparecer nos próximos dez anos” – e essa profecia vem sendo redistribuída por várias fontes, em diferentes países.
Chambers justifica que “estamos passando por uma nova revolução digital”, “ou você rompe com os paradigmas, ou será rompido.”
A principal tecnologia que ameaça os negócios tradicionais, na opinião dele, é a internet das coisas. Ou seja, equipamentos dos mais diversos, conectados pela internet, vão tornar a vida mais “automatizada” e muitos produtos e serviços poderão ser dispensáveis.
Um dos exemplos que ele mostra são os carros autônomos, que poderão exterminar até 10 milhões de empregos em todo o mundo, num futuro breve. O empresário, que já foi citado como delirante anos atrás quando disse que as chamadas telefônicas em pouco tempo seriam gratuitas, mostra que parece que sabe o que está falando – e as ligações gratuitas via Skype, Viber e WhatsApp ajudam a mostrar isso.
Por que então a Amazon, que já nasceu digital, decidiu por essa “volta ao passado”, ao iniciar agora sua atuação em lojas físicas?
A resposta, acredito, passa pelo título desse artigo, onde trago da cultura popular a expressão politicamente incorreta “jacaré parado vira bolsa” – ou, na selva, o bicho que não foge ou ataca, morre. A Amazon, líder no comércio eletrônico, sabe da importância de se reinventar constantemente, por isso hoje é uma das empresas mais inovadoras no mundo, com iniciativas na área de mídia (o Washington Post, jornal comprado por Jeff Bezzos, fundador da Amazon, é um case hoje na imprensa mundial), robótica na gestão de estoques, modelos inovadores de entrega… No terreno da internet das coisas, tecnologia citada por Chambers com destaque na nova era da revolução digital, a Amazon criou um produto que tem tudo para ser umas das sensações do Natal Americano. Caso você não conheça, veja o vídeo, aqui.
É mais provável que a Amazon enxergue, nas lojas físicas, a possibilidade de experimentar os benefícios que o omnichannel – a perfeita integração entre os diferentes canais – internet, celular, sms, tv, lojas próprias, distribuidores… – pode trazer. Se há clientes que gostam de tocar nos livros, de ir até a loja para conversar sobre produtos (mesmo que eles sejam digitais) ou mesmo de usar o espaço para passar o tempo, relaxar e conversar com amigos, a Amazon está disposta a se reinventar para garantir seu sucesso, não apenas pelos próximos dez anos, mas por muito mais tempo. Afinal, essa loja poderá servir de plataforma para outros experimentos, incluindo entregas colaborativas.
E sua empresa, está disposta a se renovar para não perecer? Esse desafio pertence a todos os negócios, de todos os portes, em todos os setores. A hora é agora, não há o que esperar. Para não correr o risco de fazer parte das trágicas estatísticas empresariais.
Por Marcelo Pimenta (Menta90). Jornalista, professor e criador do blog Mentalidades.
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